quarta-feira, 5 de maio de 2010

Igor



Murmúrios inteligíveis. Ergue a mão ao ar e um círculo alquímico projeta-se. Dele, materializa-se um imenso machado que aos poucos toma forma definida. A lâmina adunca, na ponta da colossal haste de ferro que repousa no ombro da mulher, fulgura à luz da lua minguante. A extensão da arma ultrapassa em duas vezes a altura de sua manipuladora. Parece leve. O firmamento racha-se em pedregulhos marmóreos. Eleva-se uma tímida poeira. O coração sente misericórdia: fita as silhuetas que se aproximam com lufadas de tédio. Retesa.
- Ande logo com isso, Olga... Preciso de mais tempo aqui!
Por cima do ombro, vê um jovem de corpo esguio, de cócoras entre os estilhaços do assoalho. Conhecido há muito! Ramon, por trás dos óculos de telescópio, revira líquidos em frascos disformes. Uma caixa com vidrarias ao lado. As cores bruxuleiam. Concorda com o homem e se volta as suas vítimas. Os corpos sem vida, cerca de trinta deles, arrastavam-se no ritmo da falsa respiração.
- Pff... Não fique falando como se eu realmente precisasse de você!
Os fios negros, longos, escondem um meio sorriso. Sarcástico. Os cabelos, depois, flutuam. Gira o calcanhar e impulsiona o punho direito, desferindo a rotação para a extremidade inferior do machado. A placa de ferro rasga o ar, emitindo zunidos de corte. Um bocado de carne morta padece ao chão. Os pescoços tombados, em minutos, erguiam-se novamente. Mesmo sem membros. Ao fim da circunferência, Olga equilibra o peso com a outra mão. Brada alto. Exibe a fúria salivante e desfere um golpe vertical. Uns desalmados partem ao meio, e a lâmina, meteórica, afunda-se no mármore. A fissura impede a recuperação completa da postura de batalha.
- Já falei pra não sair lutando que nem uma idiota!
À direita da mulher, um zumbi aproveita-se de sua vulnerabilidade. Já na iminência de ser mordida, surge Ramon. Inclina o corpo para trás e desfere um chute certeiro no maxilar já entreaberto. A silhueta mole rola alguns centímetros. Seus irmãos se aproximam mais rapidamente.
- Intrometido... Eu também sei lutar sem meu machado!
- Que seja, que seja. O fogo grego está pronto.
Olhares de compreensão. Colocam-se de costas unidas. Olga retoma a defensiva com sua arma colossal. O amontoado de mortos vivos os circundam numa massa cinzenta de raio cada vez menor. Massa ondulante. Cinza. Fétida. As expressões se contraem em seriedade. Na aproximação certa, o grito:
- Ora, lege, lege, relege, labora et invenier!
Ore, leia, leia, releia, trabalhe e encontrarás. Depois de expelidas pelos lábios finos do homem, surge em suas mãos o símbolo da borboleta. A transmutação. A metamorfose almejada pela alquimia. Com o frasco de líquido carmesim em mãos, lança-o.
- Hora da limpeza! É melhor você sair de perto, hein?
Aderiu, após recolher a vidraria. Os zumbis pareceram ganhar expressão. O sangue da moça queimava em resposta ao estupor. A face: rubra. Um ataque certeiro fez o machado romper o cristal do tubo de ensaio, livrando o fogo vermelho-amarelado. Cria-se luz! A lâmina, num incêndio vigoroso, troveja na noite silenciosa, lacerando o tecido daquelas criaturas maculadas. Gritos de vitória! A bela mulher urra desferindo poucas investidas. Mas de alcance assustador! Ora pulava descrevendo meios círculos no ar, ora espalhava a flama em pequenos tornados. Agilidade sobre-humana. Completo frenesi. Vencê-la, naquele instante, parecia impossível. Aos poucos, as dezenas tombam em cinzas sagradas. O suor da vitória goteja. Fresco.
- Muito bom, Olga, muito bom!
Dos escombros, o sorriso sincero traz a imagem da bonança. Ramon atira um pote com um líquido borbulhante, esverdeado. Um convite à revitalização.
- É, eu sei. Temos que seguir por aquele corredor até o pátio principal. Os outros devem estar com problemas.
- Sim, vamos! Se os enfeitiçados chegarem a machucar o Igor, capaz que a cidade seja destruída...
Bebe em goles rápidos. Não havia tempo: o risco era real.

3 comentários:

  1. que doido, vei, de boa, vc escreve mto...

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  2. OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOW
    sou sua Maior Fan!
    serioooooooooo
    quero anime disso!
    auhuhahauhuhauhahuauhahuuhahau
    extremamente criativo e vivo este conto!
    acho que gostei mais desse do q dos outros!
    n sei t dizer bem o porque, mas deve ser pq imaginei toda a cena em anime!
    adoreeeeeeeeeeeeeeeei
    fiquei curiosa pra continuaçao e pra ver como sera o igor neste conto!
    *-*
    =*********************************

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  3. wooooooooooooooooooooooooow!!!!
    adorei Gui!
    quero mto q vc faça a continuação desse!!!!
    muito bom, muito bom mesmo!
    auhsauhsuhauhsa
    quero saber como eh o Igor e quais personagens mais virão!

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