domingo, 11 de maio de 2014

Sobre mensurar o infinito


Você se deitou ao meu lado, esgueirando seu corpo pela grama. E ali ficamos. Sua mão encontrou a minha e cerramos os punhos num só. Os ombros se tocaram e se aqueceram. Eu podia ouvir o som da sua respiração e sentir seu cheiro. Olhei para você. Você sorriu de volta. Te toquei o nariz com o nariz. Nos selamos.

Era noite. Atrás de nós, nada. À frente, nada. O som de um piano antigo reverberava nas quinas do mundo e vinha. O horizonte era apenas um tapete negro. E brilhos de estrelas eram pontos e holofotes. Falávamos sobre a possibilidade de constelações e tentávamos apontar para centros luminosos específicos, em vão. Rimos sem motivo. Te puxei para cima de mim, te envolvendo com meus braços meio trêmulos. Te beijei. Por minutos? Lhe disse sobre como é perfeito te amar, e o universo e seus astros. Sobre o mundo e sua beleza, a sua. Adormecemos. Você dormiu primeiro.

Amanheceu. Quando abri os olhos, seu rosto estava parcialmente iluminado por um tímido raio de sol incapaz de aquecê-lo. Não contive o suspiro da completude. Toquei seus lábios e você não percebeu. No céu, as nuvens desenhavam queijos e aves. Caminhavam tranquilas, enquanto se fundiam e se despediam. Desapego que não possuo. Queria tocá-las, subir até elas com você. Sem que eu me desse conta, minha mão em vida própria estava acariciando seus cabelos. Acabei por te acordar. Você não reclamou. Abriu os olhos lentamente, trôpego. Bocejou. Me desejou bom dia. Eu não disse nada, apenas sorria. Não me cabia em nada, tampouco em palavras. 

O sol se retirava. Eu estava sentado, você falando sobre viagens, planos e o destino. Imensidões e incertezas. Sua cabeça deitava-se na minha perna enquanto eu olhava para baixo para te ver. O céu sangrava. Eu não fazia questão de viajar, nem reclamaria da pequenez que me embriagava. Ali me parecia muito bom. Limpei as tiras de grama que se escondiam nas suas vestes. Te beijei com a intensidade do fogo. A força da brasa. Deitamos pela curiosidade da volúpia, a terra era gelada. Estávamos quentes. No pé do seu ouvido, repeti o quanto te amo. Nos selamos de novo, e para sempre.