Quando as águas me envolveram como um berço, minha amiga, encontrei no silêncio de seu fluir alguma paz. Era como se eu estivesse a caminho de me fundir ao mundo, dar-lhe de volta à matéria que me emprestara nessa vida fugaz. Mas tudo em mim é vaidade. E agora percebo as mazelas desse infeliz atributo: a pessoa vaidosa se mostra, preocupa-se com firulas e mesquinharias. Quer que notem que se veste bem. Quer ser admirada, quer ser bajulada. Não confessa, mas quer. Os casos mais perdidos até confessam. Sempre está se vangloriando de qualidades que ela sabe que não possui... As pessoas ao seu redor respondem com sorrisos falsos, pois os vaidosos não são muito bons para esconder sua alma cheia de futilidades. É o que há de podre no caráter humano.
O desespero bateu, e a vaidade convencia meu estupor de que minha existência era relevante demais para se desfalecer naquele momento. Às vezes nossos piores defeitos salvam nossas vidas. Estou sendo dramática, sei disso e peço perdão, mas queria que estivesse ali para visualizar aquela cena deplorável e então preciso te munir de todos os detalhes. Emergi, aos vômitos e gritos. Não demorou até que me tirassem dali e eu fosse encaminhada para o hospital mais próximo. Pensei em inventar alguma história, mas eu estava muito abalada para ter criatividade. Os olhares, daquele momento em diante, desferiam verdadeiros golpes na minha face. Uma mistura de piedade com resguardo. Fui tratada como uma criminosa. Quase matei duas pessoas, afinal...
Ao acordar, já no leito do hospital, meus pais me inundaram de perguntas, atônitos demais para me permitirem responder. Choravam e se perguntavam onde tinham errado na educação que me deram. Rezaram, num misto de culpa e vergonha. Eu, entretanto, deixei escapar: “O Guilherme já está sabendo que estou aqui?” num claro sinal de que o ocorrido não modificara minha falta de amor próprio. Respirei fundo – ele já sabia e não viria me ver até que seu filho nascesse. Praguejei a existência desse ser.
Os médicos não faziam rodeios. Disseram que a hipotermia causada pelo acidente afetara o sistema cardíaco do bebê, e que uma cesariana de emergência precisava ser feita naquele mesmo dia. Eu concordei sem refletir muito, embora a insegurança que me dominava fosse quase palpável na atmosfera. Sabe quando você tem todas as evidências que algo acontecerá e mesmo assim você prefere desacreditar? Foi assim, querida amiga, que eu fui levada para o bloco cirúrgico.
Num piscar de olhos ele estava lá. Um ser humano gerado no meu corpo repousava como um anjo ao meu lado. Meus sentidos se estontearam. Percebi que os médicos sorriam conversando com a nova vovó, que com curiosidade observava minha reação. E era de pura perplexidade! As suas formas diminutas e sua feição de serenidade fizeram as lágrimas despejarem em vistosas cascatas. Como eu quase arrisquei a vida daquela obra maravilhosa de Deus? Quando repousei aquele bebê nos meus braços, o sentimento materno que então estava ausente surgiu impetuoso. Escolhi o nome, Pedro, e fiz mil planos de mãe de primeira viagem. Queria muito que você fosse a madrinha!
Guilherme apareceu, mas eu já não estava muito interessada. Combinei os aspectos burocráticos de sua paternidade e evitava vê-lo ao máximo. Mel, hoje percebo, em meio às minhas crises de remorso, que ser mãe era tudo que eu precisava. Existem as dificuldades, com certeza, mas vivo cada dia com o fervor de quem quase já perdera tudo. Nesses dias frequentemente me lembro das pessoas mais importantes que passaram pelo meu caminho. A partir de hoje, prezo cada amizade como um tesouro da vida. Não quero perder ninguém!
Espero que tenha se divertido e se emocionado com esse relato. Espero, também, que me perdoe por tudo.
Muitos beijos e abraços,
Tina Costa.
O desespero bateu, e a vaidade convencia meu estupor de que minha existência era relevante demais para se desfalecer naquele momento. Às vezes nossos piores defeitos salvam nossas vidas. Estou sendo dramática, sei disso e peço perdão, mas queria que estivesse ali para visualizar aquela cena deplorável e então preciso te munir de todos os detalhes. Emergi, aos vômitos e gritos. Não demorou até que me tirassem dali e eu fosse encaminhada para o hospital mais próximo. Pensei em inventar alguma história, mas eu estava muito abalada para ter criatividade. Os olhares, daquele momento em diante, desferiam verdadeiros golpes na minha face. Uma mistura de piedade com resguardo. Fui tratada como uma criminosa. Quase matei duas pessoas, afinal...
Ao acordar, já no leito do hospital, meus pais me inundaram de perguntas, atônitos demais para me permitirem responder. Choravam e se perguntavam onde tinham errado na educação que me deram. Rezaram, num misto de culpa e vergonha. Eu, entretanto, deixei escapar: “O Guilherme já está sabendo que estou aqui?” num claro sinal de que o ocorrido não modificara minha falta de amor próprio. Respirei fundo – ele já sabia e não viria me ver até que seu filho nascesse. Praguejei a existência desse ser.
Os médicos não faziam rodeios. Disseram que a hipotermia causada pelo acidente afetara o sistema cardíaco do bebê, e que uma cesariana de emergência precisava ser feita naquele mesmo dia. Eu concordei sem refletir muito, embora a insegurança que me dominava fosse quase palpável na atmosfera. Sabe quando você tem todas as evidências que algo acontecerá e mesmo assim você prefere desacreditar? Foi assim, querida amiga, que eu fui levada para o bloco cirúrgico.
Num piscar de olhos ele estava lá. Um ser humano gerado no meu corpo repousava como um anjo ao meu lado. Meus sentidos se estontearam. Percebi que os médicos sorriam conversando com a nova vovó, que com curiosidade observava minha reação. E era de pura perplexidade! As suas formas diminutas e sua feição de serenidade fizeram as lágrimas despejarem em vistosas cascatas. Como eu quase arrisquei a vida daquela obra maravilhosa de Deus? Quando repousei aquele bebê nos meus braços, o sentimento materno que então estava ausente surgiu impetuoso. Escolhi o nome, Pedro, e fiz mil planos de mãe de primeira viagem. Queria muito que você fosse a madrinha!
Guilherme apareceu, mas eu já não estava muito interessada. Combinei os aspectos burocráticos de sua paternidade e evitava vê-lo ao máximo. Mel, hoje percebo, em meio às minhas crises de remorso, que ser mãe era tudo que eu precisava. Existem as dificuldades, com certeza, mas vivo cada dia com o fervor de quem quase já perdera tudo. Nesses dias frequentemente me lembro das pessoas mais importantes que passaram pelo meu caminho. A partir de hoje, prezo cada amizade como um tesouro da vida. Não quero perder ninguém!
Espero que tenha se divertido e se emocionado com esse relato. Espero, também, que me perdoe por tudo.
Muitos beijos e abraços,
Tina Costa.
Carta Para Melissa Pt I e Pt II entrou pro meu TOP5 *-*.
ResponderExcluirGostei do final, coitada da Tina.
Se o bebe tivesse morrido eu iria odiar ela rs
Ao menos um final "feliz"
ResponderExcluirauhuahuauhauhahuauh
nossa dah vontade d matar essa mulher, o pior q conheço uma pessoa mto parecida, realmente me intriga como pessoas podem ter um lado tao obscuro, ruim, maldoso, egoista, podre.
acho q ela nem merecia este final.
Enfim, outro conto mto bem escrito, e d todos acho q foi o q eu mais gostei!!!
parabens!!!!!!!
quando for medico, vai escrever bilhoes d artigos, tenho certeza!
=************
no fundoo..eu tenho ciúmes dessa melissaa!
ResponderExcluiru.u
Depois diz que não escreve bem..........até parece que você viveu isso na pele porque os sentimentos relatados pra cada situação no decorrer da trama são perfeitos...
ResponderExcluirParabéns Gui :D (e olha q eu eu comecei a ler do início...como você escreve sempre a tendência é melhorar a cada conto, imagino o quão bom esteja os mais recentes)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirE pensar que em poucos dígitos tu poderia ter matado alguém.Cômico como ela termina ...é a minha carta favorita até agora.
ResponderExcluirSe o importante na opinião é mostrar o que sentiu sobre,eis então:Vontade de ser pai solteiro.