O amor... A desconexão completa do humano ao seu lado animal. O elo em correntes de seda, que entrelaça o espírito ao divino. Em sua fragilidade, corrompia-se.
Seus olhos estavam diferentes naquela manhã: vítreos. Bolhas de sabão muito opacas. Pálpebras alertas. Algo havia desestabilizado a suavidade de seus estratagemas, coisa que nem os mais sérios conflitos familiares conseguiam efetuar. Não usava o costumeiro batom carmesim, nem os penachos em brincos de índias. Tremia as costas das mãos. Observei, ressabiado. As nuvens em nódoas cinzentas ameaçavam um temporal. Aproximei-a num meio abraço, enquanto caminhávamos para o ponto de ônibus.
- André... – e muito raramente me chamava assim – ontem, no centro da cidade, descobri um pintor que faz quadros muito bonitos!
- Ah é? Mas isso não é bastante comum por ali?
- Pode ser, mas esse rapaz é diferente. Seus quadros são incríveis!
- Você viu mais de um?
- Não, só um... Não seja chato! E você não vai acreditar: ontem ele pintou justamente um céu muito nublado! – ergui as sobrancelhas numa evidente feição de deboche que foi ignorada – Ele meio que se desconecta do mundo, como se estivesse... – muita gesticulação - Sei lá, em transe!
- É... Acho que quem está levemente desconectada do mundo hoje é você.
- Chato! Você vai entender se ver de perto. Vamos lá agora?
- Eu tenho um trabalho de física pra fazer... – murchou, e seus olhos se transformaram em pequeninas gotas de decepção. Cedi. – Mas eu vou, só não posso demorar muito, tudo bem?
Já a caminho, vislumbrei sua silhueta inclinada no vidro da janela. Respirava tão lentamente! Num vestido de um singelo amarelo, um mosaico de flores em tricô se emaranhava pela rede de linhas. Violetas experimentavam outras cores e se livravam do corpo vegetal que as entranhavam no firmamento. Adormeciam e se precipitavam de acordo com as lufadas de vento. No fim, desfaleciam nos joelhos justapostos. Tão graciosa em sua liberdade... Eu? Prisioneiro dessa mesma liberdade!
Lá estava o suposto artista-vidente - e não contenho a ironia - nos pés de uma escadaria de igreja. Uma boina à francesa, um sobretudo preto e a grande aquarela com borrões de tinta. Não era difícil ver a excitação no olhar de Thaís. Finalmente ganharam cor e vida. E a cor também manchava a tela retangular. Sentados, senti-me um intruso naquele espetáculo sem sentido. Fitava sua reação, incisivo, ansiando que ela me notasse e questionasse meu comportamento. Esmiucei as possibilidades de discussão e nas formas de justificar meus ciúmes. Cheguei a saborear os argumentos, as frases de efeito. O gosto ácido de uma vitória verbal merecida. Inútil. Ela não se movia. Os ponteiros do relógio no cume da igreja me zombavam. Rezei pelo rugido da tempestade.
Seus músculos, em conjunto, se contraíram num espasmo:
- Veja, André! São violetas!
Seus olhos estavam diferentes naquela manhã: vítreos. Bolhas de sabão muito opacas. Pálpebras alertas. Algo havia desestabilizado a suavidade de seus estratagemas, coisa que nem os mais sérios conflitos familiares conseguiam efetuar. Não usava o costumeiro batom carmesim, nem os penachos em brincos de índias. Tremia as costas das mãos. Observei, ressabiado. As nuvens em nódoas cinzentas ameaçavam um temporal. Aproximei-a num meio abraço, enquanto caminhávamos para o ponto de ônibus.
- André... – e muito raramente me chamava assim – ontem, no centro da cidade, descobri um pintor que faz quadros muito bonitos!
- Ah é? Mas isso não é bastante comum por ali?
- Pode ser, mas esse rapaz é diferente. Seus quadros são incríveis!
- Você viu mais de um?
- Não, só um... Não seja chato! E você não vai acreditar: ontem ele pintou justamente um céu muito nublado! – ergui as sobrancelhas numa evidente feição de deboche que foi ignorada – Ele meio que se desconecta do mundo, como se estivesse... – muita gesticulação - Sei lá, em transe!
- É... Acho que quem está levemente desconectada do mundo hoje é você.
- Chato! Você vai entender se ver de perto. Vamos lá agora?
- Eu tenho um trabalho de física pra fazer... – murchou, e seus olhos se transformaram em pequeninas gotas de decepção. Cedi. – Mas eu vou, só não posso demorar muito, tudo bem?
Já a caminho, vislumbrei sua silhueta inclinada no vidro da janela. Respirava tão lentamente! Num vestido de um singelo amarelo, um mosaico de flores em tricô se emaranhava pela rede de linhas. Violetas experimentavam outras cores e se livravam do corpo vegetal que as entranhavam no firmamento. Adormeciam e se precipitavam de acordo com as lufadas de vento. No fim, desfaleciam nos joelhos justapostos. Tão graciosa em sua liberdade... Eu? Prisioneiro dessa mesma liberdade!
Lá estava o suposto artista-vidente - e não contenho a ironia - nos pés de uma escadaria de igreja. Uma boina à francesa, um sobretudo preto e a grande aquarela com borrões de tinta. Não era difícil ver a excitação no olhar de Thaís. Finalmente ganharam cor e vida. E a cor também manchava a tela retangular. Sentados, senti-me um intruso naquele espetáculo sem sentido. Fitava sua reação, incisivo, ansiando que ela me notasse e questionasse meu comportamento. Esmiucei as possibilidades de discussão e nas formas de justificar meus ciúmes. Cheguei a saborear os argumentos, as frases de efeito. O gosto ácido de uma vitória verbal merecida. Inútil. Ela não se movia. Os ponteiros do relógio no cume da igreja me zombavam. Rezei pelo rugido da tempestade.
Seus músculos, em conjunto, se contraíram num espasmo:
- Veja, André! São violetas!
WOOOOOOOOOOOOOU
ResponderExcluirperfeitoooooooooooooo
*_*
quero contunuar lendo esse conto!!!
eh o melhor d todos!!!
criativo! mistico! penetrante!
perfeito mesmo!
*_____* n pare de escrever!
=*********
wooooooooooowww!!!!
ResponderExcluirperfeeeeitoooooo!!!!!!!!
nossa....muito boa a historia....
nao para de escrever!!!
*.*
parabéns!!!!
\o/\o/
aiiin que liindo este, Guizudo.
ResponderExcluirfarei um fã-clube para o André *___*
Seria fantástico se pudéssemos fazer de contos, a vida cotidiana.
ResponderExcluirO mais mágico, é lê-los e sentir, mesmo que por breves momentos, uma 'desconectada do mundo'.
Dá uma boa sensação, td parece ter tanta sintonia... ah. eu fico emocionada ! num vo vim comentar maais não. uhuh
beijoo Gui.
Ah, e é impressionante, quanto mais triste, mais bonito ficam os contos. uaheuaeh
ResponderExcluirAté as desilusões, despertam a curiosidade, e o desejo de vivenciá-las. mtoo legaal .
Chuva de comentários meus aqui, hoje eu tô faalante. rs. bjoo, agora kbo!
;_; Espetacular vaca. Já estou começando a fazer seu livro 8DDDDDDDDDDDDD
ResponderExcluirEm tom orgulhoso de quem tenta ou finge ser humilde..
ResponderExcluir_Prazer, André!
quero muito continuar lendo
ResponderExcluir*-------*
ameei demais !!!