Você se deitou ao meu lado, esgueirando seu corpo pela grama. E ali ficamos. Sua mão encontrou a minha e cerramos os punhos num só. Os ombros se tocaram e se aqueceram.
Eu podia ouvir o som da sua respiração e sentir seu cheiro. Olhei para você. Você
sorriu de volta. Te toquei o nariz com o nariz. Nos selamos.
Era noite. Atrás de nós, nada. À frente, nada. O som de
um piano antigo reverberava nas quinas do mundo e vinha. O horizonte era apenas
um tapete negro. E brilhos de estrelas eram pontos e holofotes. Falávamos sobre
a possibilidade de constelações e tentávamos apontar para centros luminosos
específicos, em vão. Rimos sem motivo. Te puxei para cima de mim, te envolvendo
com meus braços meio trêmulos. Te beijei. Por minutos? Lhe disse sobre como é
perfeito te amar, e o universo e seus astros. Sobre o mundo e sua beleza, a sua.
Adormecemos. Você dormiu primeiro.
Amanheceu. Quando abri os olhos, seu rosto estava
parcialmente iluminado por um tímido raio de sol incapaz de aquecê-lo. Não contive o suspiro da completude. Toquei
seus lábios e você não percebeu. No céu, as nuvens desenhavam queijos e aves. Caminhavam
tranquilas, enquanto se fundiam e se despediam. Desapego que não possuo. Queria
tocá-las, subir até elas com você. Sem que eu me desse conta, minha mão em vida própria estava acariciando seus cabelos.
Acabei por te acordar. Você não reclamou. Abriu os olhos lentamente, trôpego.
Bocejou. Me desejou bom dia. Eu não disse nada, apenas sorria. Não me cabia em nada, tampouco em palavras.
O sol se retirava. Eu estava sentado, você falando sobre
viagens, planos e o destino. Imensidões e incertezas. Sua cabeça deitava-se na
minha perna enquanto eu olhava para baixo para te ver. O céu sangrava. Eu não
fazia questão de viajar, nem reclamaria da pequenez que me embriagava. Ali me parecia
muito bom. Limpei as tiras de grama que se escondiam nas suas vestes. Te beijei
com a intensidade do fogo. A força da brasa. Deitamos pela curiosidade da
volúpia, a terra era gelada. Estávamos quentes. No pé do seu ouvido, repeti o
quanto te amo. Nos selamos de novo, e para sempre.